segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sexualidade

Segundo Lima (2006), “muitas vezes, os problemas ou dificuldades de ordem sexual são construídos, desencadeados, mantidos ou, pelo menos, sofrem grande influência da educação sexual (valores, conceitos, regras e princípios morais frente ao sexo) recebida na família de origem”.
A autora afirma ainda que a falta de informação, o preconceito, a imagem negativa do sexo e os conceitos distorcidos acerca de sexualidade, por fazerem parte da cultura, atingem direta ou indiretamente cada um de nós. Portanto, a educação sexual transmitida e recebida na família, de geração para geração, é “contaminada” por grande parte destes fatores, o que costuma trazer sérias conseqüências para o comportamento e vida sexuais de seus membros.
Um caso contado por Santos (2006) é o de um homem que, quando tinha 10 anos de idade, foi levado ao pediatra pela mãe, que estava preocupada com o tamanho do seu pênis. Segundo ela, o pênis era pequeno demais, o que, no futuro, a mãe acreditava, traria ao filho graves conseqüências na área sexual. O problema detectado pelo pediatra foi que a criança obesa não conseguia visualizar direito o tamanho de seu pênis, pois este ficava com a base coberta pelo excesso de gordura da região pubiana. Mas àquela altura o menino, atormentado pelas conclusões equivocadas da mãe, se sentia diferente dos outros e, envergonhado, não conseguia trocar de roupa na frente de nenhum de seus colegas. Hoje, adulto, já passou por diversos urologistas e sempre obtém a mesma resposta: “Não há problema algum com seu pênis”. Porém, ele não consegue se convencer disto e tem dificuldades de relacionamento. Vive inseguro em relação à reação que as mulheres terão ao ver o seu pênis.
Lima (2006) afirma que “em muitas famílias, não se fala de sexo, este parece não existir ou não fazer parte da condição humana”.
Como podemos perceber, muitos pais costumam transmitir suas próprias angústias, preconceitos e neuroses enraizadas para os próprios filhos. Por isto considero extremamente importante uma boa educação sexual.
Cunha (2006) afirma que “a educação sexualizada inicia-se nos primeiros momentos da vida da criança (ou talvez ainda antes, desde o dia da concepção): acariciá-la, beijá-la, abraçá-la, massageá-la vai proporcionar-lhe prazer e ensinar-lhe as melhores sensações e as melhores coisas da vida’.
Há dificuldade de se falar de sexualidade, um assunto que, incrivelmente, ainda constitui um tabu. Mas o que vem a ser a sexualidade? Para Cunha (2006) “A sexualidade é vida, é a própria pessoa. A sexualidade constitui uma força viva no indivíduo, é um meio de expressão dos afetos, é a forma de cada pessoa se descobrir e descobrir os outros”.
Segundo Guilhem, considera-se sexualidade “o processo sociocultural que fundamenta o ordenamento das experiências afetivo-sexuais, que transformam o sexo biológico em ações sociais, traduzidas pela aceitação das mais variadas crenças, práticas sexuais, comportamentos e jogos eróticos” (apud MENEGHEL, 2003).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a sexualidade é definida como “uma energia que nos motiva para encontrar Amor, Contato, Ternura e Intimidade, ela integra-se no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-se sensual e ao mesmo tempo ser-se sexual. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações, e por isso influencia também a nossa saúde física e mental” (Cunha, 2006).
O autor afirma ainda que “educar a sexualidade não é dar uma aula, ou uma boa explicação. Não chega informar, nem sequer promover uma dinâmica de grupo. É proporcionar experiências, onde as pessoas possam desenvolver facetas da personalidade que lhe permitam vivenciar a sua sexualidade de uma forma adequada”.
O artista plástico André Brown em entrevista com Alexei Gonçalves, comentou que muitos pais vêm a ele pedir para não ensinar seus filhos “a desenhar nus”, ao que ele responde que é impossível ensinar o desenho do corpo humano sem o estudo da anatomia, do corpo nu.

A incompreensão da função do nu na Arte se expressa na dificuldade de algumas pessoas em aceitar a pintura do nu, da beleza do corpo humano, encarando-o como algo proibido. Um exemplo recente foi uma visita a uma empresa de estética e beleza, em que a recepcionista, ao ver o meu portifólio de desenhos e pinturas, adjetivou minhas obras como”depravadas”. Seria eu uma “artista depravada”?
É provável que, em seu reduzido vocabulário. ela não saiba o verdadeiro significado da palavra “depravação”:
“Aurélio: depravado
[Part. de depravar.]
Adjetivo.
1.Devasso, corrompido, pervertido.
2.Perverso, malvado.
Substantivo masculino.
3.Indivíduo depravado.”
Acredito que o intuito era dizer que as obras eram “muito explícitas”. Mas o mais interessante é a ligação que algumas pessoas fazem com o retrato do nu, da sexualidade, com o proibido, o pecado, o pervertido. Fico a imaginar: como encaram sua própria sexualidade? Quantos tabus e quantas proibições e, no limite, quanta violência psicológica essas pessoas cometem contra si mesmas! Depois da dita “revolução sexual” , por que ainda reprimimos tanto o sexo?
Por isso enfatizo a importância do estudo da corporalidade, da sexualidade manifestada através da arte como uma autêntica atividade de reeducação contra o preconceito. A arte possibilita aumentar nossa percepção do mundo, sensibilizando-nos, tornando-nos mais solidários com as diferenças.
Bibliografia
CUNHA,Maria da Conceição Melo da. A importância dentro de mim – Educação sexualizada e jovens com deficiência mental. In Caderno de Textos : Educação, Arte, Inclusão / organização André Andries. Vol. 1, n. 1 (1. quandrim. 2002) – Rio de Janeiro : Funarte, 2002.
LIMA, Carla A. R. de Pinho. O papel da família no processo da construção da sexualidade. Disponível em: . Acessado em 14/06/2006.
MENEGHEL, S. N. et al. Impacto de grupos de mulheres em situação de vulnerabilidade de gênero. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(4):955-963, jul-ago, 2003.
SANTO, Patrícia Espírito.Variações sobre um mesmo tema. Disponível em: . Acessado em 14/06/2006.

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